Paulo Freire foi um educador preocupado com o ensino significativo e libertador. Para ele, o processo que envolve a compreensão crítica do ato de ler não se esgota apenas na pura decodificação da palavra ou da linguagem escrita, ela se antecipa e se alonga na inteligência do mundo.
Segundo o autor, “linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto” (p. 12).
Paulo Freire enfatiza que no momento da alfabetização da criança o professor deve trabalhar com palavras significativas que façam parte do seu repertório e do seu mundo, assim a atividade se transformará num momento de descoberta. Desse modo, as palavras viriam carregadas de significação e da experiência existencial do educando e não da experiência do professor.
O próprio autor fala sobre sua infância relembrando como foi alfabetizado, na escola onde estudou os exercícios e os momentos de leitura não eram enfadonhos nem mecânicos, eram momentos em que os textos eram entregues à curiosidade dos alunos para serem explorados.
Ao se tornar professor, ele percebeu que o ato de ler e de escrever eram inseparáveis, por isso ele não subdividia as matérias a serem estudadas em blocos pré-determinados (crase, regência, concordância), ele apresentava-os de forma dinâmica no próprio texto, dessa maneira os alunos não memorizavam mecanicamente a descrição do objeto, mas sim aprendiam a significação dele.
O autor critica ainda o ensino mecânico. Para ele, “a memorização mecânica da descrição do objeto, não se constitui em conhecimento do objeto”, [...] “a leitura de um texto tomado como pura descrição de um objeto e feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura” (p.18), enfim, torna-se uma atividade vazia e sem nenhuma significação para o educando.
Outro aspecto abordado pelo escritor é o de que “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele” (p.22), ou seja, a partir do momento em que o indivíduo realiza a leitura de mundo ele se coloca em constante desenvolvimento através da interação e prática conscientes.
Além disso, o professor “consciente” constitui um personagem importante no papel da aprendizagem, pois ele tem que ajudar os educandos a superarem as suas dificuldades, respeitando os níveis de desenvolvimento e compreensão na realidade de cada um sem autoritarismo.
Por fim, o autor dá um exemplo de alfabetização realizado em São Tomé e Príncipe. Segundo ele, os cadernos destinados à alfabetização são escritos em uma linguagem simples para que o estudante seja estimulado criticamente e não realize uma leitura mecânica dos textos apresentados. A escrita desses mesmos textos é desafiadora, ou seja, faz com que eles se tornem sujeitos ativos do próprio conhecimento.
Ele ainda diz que o educador deve estimular a oralidade dos alfabetizandos nos debates, em relatos e análises de fatos, além de desafiá-los a escrever sobre o que foi debatido. Ler e escrever devem ser considerados momentos inseparáveis de um mesmo processo que objetiva o desenvolvimento da compreensão e do domínio da língua e da linguagem.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 17. ed. São Paulo: Cortez, 1987
Leila