Apesar de...

... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer.
Apesar de, se deve amar.
Apesar de, se deve morrer.
Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora
de minha própria vida.
Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você
enquanto você esperava um táxi.
E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito,
mas é o corpo que eu quero.
Mas quero inteira, com a alma também.
Por isso, não faz mal que você não venha,
esperarei quanto tempo for preciso.

Clarice Lispector





O Lobo do mar - Jack London

       O Lobo do mar é um romance de aventura realista e auto-biográfico narrado em primeira pessoa do escritor Jack London, este se inspirou em suas próprias experiências vividas em viagens marítimas pelo mundo para escrever.
       A obra narra as desventuras do náufrago Humphrey Van Weyden ao ser resgatado pelo navio pesqueiro Ghost comandado pelo capitão Lobo Larsen, um ser comandado unicamente por seus interesses e paixões.
      Apelidado de "Hump" pelo capitão o protagonista se vê obrigado a seguir viagem no navio. Diante dessa nova perspectivade vida ele inicia uma convivência conturbada e perigosa com pessoas aculturadas e violentas, o clima é tenso, pois os marinheiros sentem-se coagidos a seguir todas as ordens de Lobo Larsen, mesmo não concordando com elas. O clima no navio só melhora com a chegada de Miss Maud Brewster, outra náufraga que também fica à mercê dos caprichos do capitão.
      No desenvolvimento da narrativa podemos perceber que o autor se refere ao protagonista como um ser em constante evolução, já que após a experiência vivida no Ghost ele jamais será como antes.
      Além do mais, a tradução de Monteiro Lobato enriquece linguísticamente o romance, pois o escritor utiliza um vocabulário rico em de próclises, ênclises e mesóclises tornando assim a leitura envolvente e prazerosa.
      Desse modo, a obra faz refletir a respeito da natureza humana, quando esta se vê obrigada a conviver em situações adversas.

Leila
     

Felicidade

Sou feliz,
por que sinto vergonha
diante da fome e do desespero,
diante da flor e da solidão,
diante da alegria e da felicidade,
diante da natureza,
diante do sol considerador
e da lua perceptiva.
Por tudo isso aprendi a ser feliz,
e, assim, não consigo ser mais infeliz.
Eu sou feliz porque aprendi a olhar a vida.
Apenas.

José Maria de Souza Dantas

C.O.V.A - Marck Walden

        O C.O.V.A. (Centro de Orientação para Vilania Aplicada) primeira obra do escritor Marck Walden conta a história de uma instituição  escolar cujo objetivo é  treinar pequenos vilões com habilidades extraordinárias para serem a "elite" da vilania. Com professores altamente treinados e qualificados a "escola de vilania" situada em uma ilha vulcânica tropical comporta a mais alta tecnologia futurista.
      Otto Malpense, Laura Brand,  Nélson Mortecerta e Shelby são os protagonistas dessa aventura, inconformados com o exílio eles tentarão de todas as maneiras escapar. Mas, perceberão que fugir do  C.O.V.A. não será uma tarefa tão fácil assim, além do mais suas habilidades serão testadas mais cedo do que imaginam, levando-os a refletir sobre suas escolhas.
      A obra é um romance de ficção narrada em terceira pessoa, o narrador onisciente conhece o íntimo de cada personagem, suas angústias, dúvidas e medos. A narrativa envolve e prende o leitor do início ao fim da trama.

Leila
     

  

O amor romântico...



       ... é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos,
que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana,
em que o vestimos.
      O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão.
      Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.

Fernando Pessoa





Desventuras em série: Mau começo

       Mau começo, primeiro livro da série "Desventuras em série" do escritor Lemony Snicket narra a trágica história dos irmãos Baudelaire: Violet, Klaus e Sunny, que após terem sua casa incendiada e seus pais mortos se veem obrigados a ir morar na casa do Conde Olaf, parente mais próximo da família.
       Tudo indica que seria apenas uma "mudança de ares" para os jovens órfãos, mas eles não esperam que por trás da aparente bondade do Conde se escondem interesses pérfidos. Ou seja, o nosso vilão está interessado na herança deles e para conseguí-la não medirá esforços. Os jovens Baudelaire terão que usar de toda sua inteligência para poderem escapar das maldades do Conde e seus amigos.
       Na obra percebemos um narrador onisciente, uma narrativa densa e a profundidade psicológica dos personagens, além disso, o autor utiliza de uma estratégia muito singular que é a todo momento avisar ao leitor que a história não terá um final feliz e agradável como se espera de um romance tradicional.
      Todas estas estratégias servem para envolver o leitor que acaba participando da trama inconcientemente, além disso, cada livro é uma continuação direta do anterior, onde os irmão Baudelaire terão suas habilidade e inteligência testadas a todo momento.

Leila
      

Escrever é esquecer.


 
A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.
A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm.
A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono;
as segundas, contudo, não se afastam da vida -
umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais,
outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura.
Essa simula a vida.
Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa.
Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega,
pois que ninguém fala em verso

Fernando Pessoa


O Capitão Assassino - Charles Dickens

      O autor inicia o conto dizendo que a história deixou marcas profundas em seu espírito de criança, pois foi sua babá quem o contou, ele diz ter ficado traumatizado com a terrível narrativa.
      Narrado em 3ª pessoa, a obra de Charles Dickens  conta a história de um capitão macabro que se alimenta de carne humana. Para satisfazer seu vício sem deixar suspeitas ele contraia matrimônio com lindas moças, após algum tempo de casado ele as assassinava sem deixar suspeitas aparentes.
      Para tal ato não chamar a atenção dos moradores do lugarejo,  ele seguia sempre o mesmo ritual macabro, após um mês de casado, pedia a noiva que preparasse massa para uma torta de carne, quando ela perguntava onde estava o recheio, ele a matava.
      Na obra temos também um narrador onisciente que sabe de todos os acontecimentos e sensações, o leitor sabe exatamente aquilo que ele quer. Além disso, o modo como o narrador conduz a história prende a atenção do leitor que fica ávido por saber qual será o próximo passo do Capitão Assassino e como será o fim da história.
      Apesar de ser um conto, percebemos ainda uma certa repetição na narrativa por parte do autor que confere musicalidade parecida com a de um poema, no trecho: "cortou-lhe a cabeça, picou-a em pedaços, temperou-a com pimenta, salgou-a, colocou-a dentro da torta, mandou-a para o padeiro, comeu tudo e chupou os ossos". Este trecho aparece outras vezes ao longo da narrativa. 
      O conto tem final surpreendente e inusitado que deixa o leitor com aquela sensação de quero mais, pois prende sua atenção do início ao fim.

Leila

Tudo é o olhar - Clarice Lispector

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais
(Texto apócrifo)

A Guerra dos Mundos - H.G.Wells

        A Guerra dos Mundos é um romance de terror científico do escritor H.G.Wells. Nele o autor escreve sobre o fato da Terra ser invadida e dominada por seres extra-terrestres.
      O romance é narrado em primeira pessoa sob a visão de um narrador anônimo conhecedor apenas dos acontecimentos que estão à sua volta.
      O romance se inicia com a chegada de um meteoro na cidade de Woking, do estranho cilindro  saem marcianos antissociais e extremamente violentos que fulminam os primeiros moradores com seu raio de calor.
      Inicia-se assim a destruição da cidade, para os marcianos as pessoas são como formigas que precisam ser exterminadas. Todas as tentativas de reação por meio das autoridades competentes caem por terra, o poder de fogo dos invasores é infinitamente maior, resta aos humanos apenas fugir e se proteger.
      O protagonista também faz o possível para proteger a si e seus familiares, em meio à muito sangue, morte e destruição ele consegue atingir seu objetivo.
      O autor utiliza uma narrativa realista e tensa para prender o leitor do início ao fim, além do final surpreende que faz refletir.

Leila
     

Amor é...

Vida
É o amor existencial.
Razão
É o amor que pondera.
Estudo
É o amor que analisa.
Ciência
É o amor que investiga.
Filosofia
É o amor que pensa.
Religião
É o amor que busca a Deus.
Verdade
É o amor que eterniza.
Ideal
É o amor que se eleva.
É o amor que transcende.
Esperança
É o amor que sonha.
Caridade
É o amor que auxilia.
Fraternidade
É o amor que se expande.
Sacrifício
É o amor que se esforça.
Renúncia
É o amor que depura.
Simpatia
É o amor que sorri.
Trabalho
É o amor que constrói.
Indiferença
É o amor que se esconde.
Desespero
É o amor que se desgoverna.
Paixão
É o amor que se desequilibra.
Ciúme
É o amor que se desvaira.
Orgulho
É o amor que enlouquece.
Sensualismo
É o amor que se envenena.
Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do amor, não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente.

Francisco Cândido Xavier



O Incrível Homem que Encolheu - Richard Matheson

      Narrada em terceira pessoa a  obra "O Incrível Homem que Encolheu" conta a história de Scott que, um dia em um passeio de barco entra em contato com a água de chuva de uma nuvem misteriosa. Esse foi o princípio de tudo.
      Após esse evento singular em sua vida, Scott percebe que todos os dias ele perde centrímetros em sua estatura a "doença" parece irreversível. Sua esposa e família são agora para ele gigantes inalcançáveis; o gato da casa, uma terrível ameaça, o protagonista precisa lutar pela sobrevivência em um mundo que se torna cada vez maior e perigoso.
      No romance percebemos a existência de um narrador onisciente e onipresente que acompanha o personagem principal, ele conhece os pensamentos mais profundos do protagonista, suas angústias e dúvidas, além disso, conduz  o leitor e o mantém informado no decorrer da narrativa.
      A obra é um romance de terror que conduz o leitor à uma reflexão sobre o que realmente é importante na vida de uma pessoa - trabalho, família, amigos.
      O final surpreende ao mesmo tempo que deixa o leitor querendo mais.
      A obra reune ainda outros contos consagrados de Richard Matheson como "Pesadelo a 20.000 pés, O teste", entre outros. Todos macabros e surpreendentes.

Leila

Língua Portuguesa - Clarice Lispector

Esta é uma confissão de amor:
amo a língua portuguesa.
Ela não é fácil.
Não é maleável.
E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento,
a sua tendência é a de não ter sutilezas
e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé
contra os que temerariamente ousam
transformá-la numa linguagem
de sentimento,
de alerteza
e de amor.
A língua portuguesa é um verdadeiro desafio
para quem escreve.
Sobretudo para quem escreve
tirando das coisas e das pessoas
a primeira capa de
superficialidade.

Menino de Engenho - José Lins do Rego

      Narrada em primeira pessoa a obra conta a história do narrador-protagonista Carlinhos. Ele conta a sua infância no engenho de açúcar Santa Rosa de propriedade de seu avô materno, o Coronel José Paulino, para onde vai após um começo de narrativa trágico: quando tinha quatro anos, o pai assassinou sua mãe e foi internado em um hospício para tratamento psiquátrico.
      A obra é um romance memorialista, pois o protagonista retoma suas memórias para escrever sobre o período em que viveu no engenho. Desse modo, o leitor tem acesso somente aos fatos e conhecimentos narrados pelo personagem central que tem  uma visão idealizada e romântica a respeito do engenho e de seu avô.
      Durante a narrativa percebemos a influência patriarcal e escravocrata que fazem parte da infãncia do menino, pois  a ferramenta que movia o engenho era a exploração da mão-de-obra escrava.
      Carlinhos é um personagem melancólico, nostálgico e peralta. Ele não tem introspecção psicológica (personagem plano) e a sua linguagem é espontânea, por não ter responsabilidades, devido ao convívio com os escravos deu inicio à sua vida sexual precocemente, a "brincadeira" só acabou quando seu avô resolveu mandá-lo estudar em um internato.
      No romance vemos que os personagens são marcados pelo determinismo, devido ao meio onde convivem. Além disso, vemos também a presença marcante do nacionalismo, pois a obra retrata a realidade brasileira cocomitantemente com as superstições e o folclore local. 
      Podemos perceber também que o autor usa recursos orais linguísticos simples, dando ênfase na linguagem regional para assim, aproximar a obra do leitor.   
       Enfim, Menino de Engenho é um romance nordestino que está relacionado ao ciclo da cana-de-açúcar, já que retrata o Brasil pré-industrial com a expansão da indústria têxtil e a decadência dos engenhos de cana devido ao êxodo rural. Desse modo, os fazendeiros que inicialmente empobrecem, devido à perda de capital e mão de obra, vão enriquecer novamente, mas desta vez por meio da indústria. 

Leila

Ocasiões de ficar calado - Fernando Sabino

_ Como vai indo seu marido, que há tanto tempo não vejo?
_ Meu marido morreu há dois anos, o senhor não sabia?
Cumprida a primeira parte da gafe, saio impávido para a segunda:
_ Que coisa terrível, eu não sabia! Me desculpe, mas andei viajando...
E não tendo mais o que dizer, repito para o cavalheiro que a acompanha:
_ Terrível, não acha?
Mas ele não pensa assim:
_ Não acho não: sou o atual marido dela.
A consciência de que a gafe em geral se compõe de duas partes distintas. Ficar sempre na primeira, jamais tentar consertar. Ao contrário da Loteria Federal, não insista, desista! Eis o que eu, empedernido praticante, tenho a aconselhar aos meus companheiros de infortúnio. A gafe é vertiginosa e se faz anteceder de uma espécie de aviso, antecipa-se na sensação de que caminhamos no ar, como num desenho animado:
_ Como foi bom encontrar você! Eu já estava achando esta festa chatíssima. Vamos embora daqui?
_ Não posso, sou a dona da casa.
Ou esta outra, mais comum ainda:
_ Com aquela mulher ali eu não dormia nem de graça.
_ Aquela mulher ali é a minha esposa.
Se o infeliz acrescentar que neste caso dormia sim, não estará apenas caindo de quatro: estará se precipitando no abismo da mais imperdoável inconveniência, que vem a ser a repetição literal de uma velha anedota.
São gafes tradicionais, decorrentes em geral das relações de parentesco ou dos encontros de circunstância, a que os mais insensatos como eu raramente escapam. Não há como resistir ao poder magnético dos assuntos traiçoeiros, que vão espalhando armadilhas a cada passo, e nos levam sempre a falar em corda justamente na casa do enforcado.
Se sabemos que a gafe é irreversível, por que tentamos teimosamente remendá-la, afundando-nos cada vez mais?
É que ela nem ao menos é sincera. Fôssemos autênticos e verazes na convivência, a gafe se desarmaria ao peso de sua própria legitimidade. E deixaria de ser gafe.
Fois essa, pelo menos, a solução encontrada por um amigo meu, vítima também dessa maldita sina, e que ontem me dizia ter-se conformado, passando a praticá-la deliberadamente.
_ Você é parente dele? Que horror!
_ Morreu? Meus parabéns.
_ Não sei como você, tão simpática, pode ter um marido tão chato.
_ Fui cair logo ao seu lado neste banquete, mas veja só que azar o meu.
_ Aliás, pelo que eu soube, a senhora não é tão velha quanto parece.
_ Não aguentei ler até o fim. Ah, foi o senhor que escreveu? E ainda tem coragem de confessar?
Com isso ele passou a ser considerado homem do mais fino espírito – excêntrico, desconcertante, é verdade – mas de esmerada educação. Apesar de tudo, outro dia recebeu o troco que lhe era devido, funcionando desta vez como receptor de uma gafe, ao dizer a uma jovem que está escrevendo um romance: a história de um mau-caráter. E ela, inocentemente:
_ Autobiográfico?

A hora da estrela - Clarice Lispector

      O romance narrado em terceira pessoa conta a história de Macabéa uma jovem alagoana, virgem e ignorante que veio morar no Rio de Janeiro com uma tia que cuidava dela desde pequena. Quando sua tia morreu, ela mudou-se para um quarto de pensão e começou a trabalhar como datilógrafa. Um dia ela conheceu Olímpio de Jesus um metalúgico paraibano, ambos iniciaram um namoro sem muito diálogo. Ao perceber que Macabéa era uma moça humilde e pobre Olímpio abandonou-a por outra moça, filha de um açougueiro do bairro. Macabéa era tão ingênua que não percebia a realidade ao seu redor (não se percebia no mundo), agia de forma inconsciente.
      Também temos o narrador onipotente e onisciente Rodrigo S. M., que constitui um dos personagens centrais do romance, pois, ao mesmo tempo em que ele criou e narrou a vida de Macabéa, acabou por identificar-se com ela, mesmo quando a agredia.
       Na obra podemos perceber a presença de ironias e metáforas além da narrativa simples, já que não usa termos linguísticos complicados, a densidade psicológica é muito presente devido à introspecção dos personagens. Além disso a autora no romance faz crítica ao preconceito, à miséria e à infidelidade humana.
      Percebemos também que os nomes dos personagens principais  são metafóricos e carregados de significado, Macabéa vem de Macabeus (livro bíblico) e Olímpio vem da mitologia grega.
      Finalmente, vemos que a autora em sua obra tenta simplificar a condição humana em relação à morte, esta é comparada com o surgimento de uma supernova no universo, pois a morte de uma estrela gera outro universo, Macabéa vira estrela no momento que transcede dessa vida para outra. É o único momento no romance que a protagonista é percebida pelos outros.

Leila

pronominais - Osvald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

Dexter: A mão esquerda de Deus - Jeff Lindsay

       A obra é  um romance policial e conta a história de Dexter Morgan um perito em borrifos de sangue que trabalha na polícia de Miami. Ele leva uma vida aparentemente normal, trabalha durante o dia na delegacia com sua irmã Debby e  tem uma namorada chamada Rita.
      A vida do protagonista só não seria comparável à de um cidadão comum por que ele esconde um terrível segredo, Dexter é um serial-killer.  Devido ao fato dele ser assassino ele conhece a mente dos criminosos e, por isso seus palpites são de grande valia para seus colegas de trabalho.
      Dexter é um sociopata sombrio, calculista, frio e ao mesmo tempo adorável, com um ótimo senso de humor, exatamente o tipo de rapaz que qualquer pai gostaria que a filha namorasse.
      No romance Dexter se vê às voltas com um assassino misterioso que desafia sua perspicácia, as mortes são enigmáticas e só o protagonista pode resolver pois tem a mesma mentalidade do assassino. O desfecho desse mistério guarda uma revelação bombástica para Dexter.
      Por ser narrado em primeira pessoa o romance é envolvente, pois nos dá a visão do personagem principal que conta sua própria história, além de seus sentimentos, angústias e sensações. 
      Outro ponto importante que podemos perceber é o fato de  Dexter usar uma máscara (criada por ele) para se ajustar ao mundo "normal" onde vive e assim passar despercebido. Ele usa essa máscara metafórica a maior parte do tempo, e somente quando está matando é que se revela verdadeiramente.
      Percebemos também na obra que Jeff Lindsay se utiliza de um humor negro e ironias finas para tornar o personagem agradável e simpático. Uma delas é justamente o protagonista ser assassino e trabalhar em uma delegacia de polícia sem ter a sua verdadeira face desmascarada.

Leila

Ame... - Adam Macedo

Ame...
Se você hoje é feliz
E ame se a felicidade é ainda ilusão de um futuro que nunca chegou ou de um passado ,
que você não captou .
Ame...
se você tem lutas e se as lutas lhe troussessem ,
de amargas e sofridas derrotas.
Ame..
se você é um sucesso .
Ame...
se é belo e bela é sua alma mas ,
ame também se a natureza não foi lhe mais que madrasta .
Ame...
se lhe perdoarem mas perdoe com amor,
aos que se perdoam não sabem .
Ame...
quando lhe sorriem .
É com seu sorriso transforma em sorrisos ,
a tristeza de alguém .
Ame...
quem lhe fere.
Ame...
até que ferir ela não possa mais .
Ame ...
a DEUS .
Ame...
ao próximo.
Ame...
a VOCÊ mesma (o).

1984 - George Orwell

      O romance escrito por Orwell retrata um mundo dividido em três grandes superestados: Eurásia, Lestásia e Oceania. Os cidadãos são constantemente vigiados por teletelas (grandes aparelhos de TV instalados por toda parte), estas permitiam que o Grande Irmão vigiasse os cidadãos, mantendo um sistema de opressão coesivo e injusto. Assim, ele ficava informado sobre toda e qualquer atitude das pessoas, inclusive seus pensamentos. Quem pensasse de maneira diferente, cometia crimidéia (crime de idéia em novilíngua), seria preso pela Polícia do Pensamento e vaporizado, ou seja, a pessoa tinha seus dados excluídos do sistema, deixava de existir e desaparecia completamente.  
      A transformação da realidade é o tema principal de 1984. Disfarçada de democracia, a Oceania vivia um regime político totalitário desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob o comando do onipresente Grande Irmão (Big Brother).
      Por ser narrado em terceira pessoa, o narrador tem acesso aos pensamentos e sentimentos mais profundos dos personagens, além disso, a narrativa envolvente prende o leitor do início ao fim, sendo que o final é surpreendente.
      A  obra conta a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade. Sua função é reescrever e alterar dados de acordo com os interesses do Partido, ele costumava questionar a opressão que o Partido exercia nos cidadãos.
      Certo dia ele conhece Julia uma linda jovem, também membro do Partido, os dois passam a se relacionar mesmo sabendo que eram proibidos relacionamentos internos. Os amantes se encontravam de forma furtiva até que foram descobertos e presos pela Polícia do Pensamento. Ambos são levados para o interior do Partido onde são torturados, tanto fisicamente quanto psicologicamente.
      Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40, o livro não se resume a apenas criticar o stalinismo e o nazismo, mas toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo em peça para servir ao estado ou ao mercado através do controle total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. Winstom Smith representa o cidadão-comum, com seus questionamentos e revoltas, vigiado pelas teletelas e pelas diretrizes do Partido.
      Orwell escolheu o nome do protagonista em homenagem ao primeiro-ministro Winston Churchill, por ser um sobrenome comum na Inglaterra.
      A obra-prima foi escrita no ano de 1948, mas seu titúlo foi invertido para 1984 por pressão dos editores. A intenção de Orwell era descrever um futuro baseado nos absurdos do presente.

Leila


Desilusão

Como tudo é triste e feio,
sempre igual,
sempre odioso.
Como sonho com uma terra mais bela,
mais nobre,
mais variada.
Como seria pobre a imaginação do seu Deus,
se este Deus existisse
ou se não tivesse criado outras coisas,
em outro lugar.
Sempre bosques,
bosquezinhos,
rios que se parecem com rios,
planícies que se parecem com planícies;
tudo é semelhante e monótono.
E o homem!... O homem?...
Que animal horrível, perverso,
orgulhoso e repugnante.

Trecho tirado da obra:"Contos fantásticos" de Guy de Maupassant


Formaturas infernais

      Formaturas infernais é uma obra que compila contos de terror, os acontecimentos se passam em festas de formatura. Cada conto tem sua peculiaridade e os desfechos são intrigantes.
      O livro reúne as autoras Meg Cabot, Stephanie Meyer, Kim Harrison, Michele Faffe e Lauren Myracle, todas abordam temas que mostram formaturas como eventos aterrorizantes.
      O conto "A filha da exterminadora" relata as desventuras de Mary uma jovem que tenta a todo custo matar o vampiro que transformou sua mãe. Para chamar a atenção dele ela resolve matar seu filho na festa de formatura. Este conto é interessante porque ele é narrado sob a perspectiva de cada personagem envolvido na trama, cada um relata os acontecimentos de acordo com sua visão.
      O conto "O buquê" é o mais assustador de todos, ao procurar uma vidente Frankie uma adolescente acaba adquirindo um buquê que segundo sua dona realiza desejos, o que a jovem não sabe é que os desejos têm consequências catastróficas. Ela faz o seu pedido, mas nem imagina de que modo ele irá se realizar.
      O conto "Madison Avery e a morte" relata a história de Madison  uma jovem que conhece um lindo rapaz no baile de formatura, ele, um sedutor a convence a deixá-lo levá-la para casa. No percurso ela percebe as intenções macabras do seu "príncipe encantado" mas não consegue escapar a tempo. O que seria apenas um simples baile de formatura acaba se tornando uma aventura que envolve vida e morte.
      O conto "Salada mista" narra a história de Miranda que tem que proteger Sibby uma deusa que está de passagem de seus perseguidores. Enquanto Miranda se preocupa em transportar Sibby pela cidade sem serem percebidas, a outra só pensa em se divertir. Procurando um esconderijo ambas vão para uma festa de formatura imaginando que ali estariam seguras, mas se enganam.  
      O conto "Inferno na Terra" se passa inteiramente num baile de formatura. Sheba um demônio vai ao baile para disseminar a maldade e o rancor, sua intenção é estragar a festa de todos os presentes. Mas ela não contava com a presença de Gabe um meio anjo que se aproxima dela e a cativa. Nem mesmo um demônio consegue resistir aos encantos de um anjo.
      Em todos os contos os finais são intrigantes, as narrativas se intercalam ora em primeira pessoa, ora em terceira pessoa, além de serem envolventes e rápidas.

Leila

Sorri - Charles Chaplin

Sorri,
quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios.
Sorri,
quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador.
Sorri,
quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos.
Sorri,
vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz.

Marley & Eu - John Grogan

      Baseado em acontecimentos reais o romance narra em primeira pessoa a tragetória da família de John Grogan ao lado de Marley, um labrador completamente indisciplinado e impossível de se adestrar, nas palavras do autor.
      John e Jenny  sua esposa são recém casados, para completar a família resolvem adquirir um cão. Sem experiência, acabam levando para casa um lindo filhote de labrador eufórico e hiperativo.
      Marley transforma a vida da família, pois com défcit de atenção não consegue aprender os ensinamentos de seu dono que se vê metido em muitas encrencas e situações vejatórias. Ele chega a ser expulso da escola de adestramento.
      A convivência entre eles dura em torno de treze anos, quando Marley já idoso se despede do mundo e de sua família. Todos sofrem muito com a perda do seu cão de coração puro, cujo amor e lealdade eram ilimitados.
      Podemos perceber na obra que apesar dos fatos narrados serem reais os personagens têm atitudes românticas, pois tentam a todo momento mudar as atitudes de seu cão para que este se iguale aos demais animais de sua raça e assim se torne "um cão perfeito".
      Além disso, em alguns trechos do romance vemos também que o autor na voz de seu personnagem dá voz à Marley, como se o cão pudesse expressar suas dúvidas e seus sentimentos mais profundos.
      Enfim, como os personagens humanos, Marley também é o personagem principal da trama, pois é por meio de suas intervenções desastrosas que a família cresce, ele ensina a seus donos o verdadeiro valor de uma amizade.
    
 Leila

Castigo - William James

      Seria difícil conceber castigo mais demoníaco, pudesse uma tal coisa ser posta em prática, do que abandonar uma pessoa à deriva na sociedade por forma a passar despercebida a todos os seus membros.
      Se ninguém se voltasse para nós ao ver-nos entrar em casa, se ninguém nos respondesse quando nós falássemos, ou se preocupasse com o que nós fizéssemos, mas se toda a gente que conhecêssemos nos «desligasse do mundo» e agisse como se fôssemos entidades inexistentes, não tardaríamos a ser tomados de uma espécie de desespero de raiva e impotência, de que a mais cruel das torturas corporais seria um alívio.

Vidas Secas - Graciliano Ramos

      Vidas secas é um romance ambientado no sertão, sua descrição realista narrada em terceira pessoa e o seu discurso direto mostram o retrato da luta pela sobrevivência de pessoas simples que sofrem com a seca no nordeste. O romance é escrito de forma peculiar, pois seus capítulos podem ser lidos de forma aleatória e independente, já que não influenciam o desenvolvimento e o decorrer da história.
      Fabiano e sua família, formada pela esposa Sinhá Vitória, pelos filhos não nomeados, chamados apenas de Menino mais Velho e Menino mais Novo, a cachorra Baleia e o papagaio iniciam uma migração para fugir da seca que assola a região, após alguns dias de caminhada encontram uma fazenda abandonada na qual Fabiano começa a trabalhar como vaqueiro. Por um breve espaço de tempo a família encontra sossego e abrigo.
      A ausência de comunicação entre os personagens é total, os personagens são introspectivos e fechados no seu próprio mundo, muitas vezes chegam a se comunicar somente por meio de sons e grunhidos.
      Sem se darem conta do que acontece à sua volta Fabiano e os demais menbros da família caminham num triste movimento cíclico de solidão interminável, devido ao abandono das autoridades e a desesperança, a única alternativa é a melancólica fuga, tanto de si mesmos como do sertão abrasador, uma fuga sem fim.
      No romance podemos perceber também a ausência de adjetivos, o autor usa esse recurso para tornar o romance "seco" assim como a seca, sem emoções e sentimentos. O que permanece na obra é a dura realidade, que aflige os humildes, estes, apenas se resignam com o próprio sofrimento
      Podemos perceber também no romance que os nomes dos personagens são carregados de significado e representações, o nome da cachorra Baleia significa "grandeza, força", por que ela encontra o alimento; Sinhá vitória representa a inteligência e força femininas; Fabiano representa o nordestino simples e humilde.
      Graciliano Ramos em sua obra retrata o sertão em sua forma mais dura, o período da seca é o que mais aflige o sertanejo, pois, sem condições de se manter migra para outras regiões buscando melhores condições de vida. Apesar de ser uma obra pessimista, e ter o seu estilo enxuto, o romance retrata a realidade melhor que a própria realidade.

Leila

Quem vai queimar? - Pitty

Encaixotem os livres
Desinfectem os cantos
Estuprem as mulheres
Brutalizem os homens
Despedacem os fracos
Enfeitem a moda
Sodomizem as crianças
Escravizem os velhos
Fabriquem as armas
Destruam as casas
Façam render a guerra
Escolham os heróis

E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Quem vai queimar?

Empurrem conselhos
Forneçam as drogas
Engulam a comida
Disfarcem bem a culpa
Protejam a igreja
Perdoem os pecados
Condenem os feitiços
Decidam quem vai morrer
Contaminem a escola
Violentem os virgens
Aprisionem os livros
Escrevam a história

E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Quem vai queimar?

Quem ordena a execução
Não acende a fogueira
(Pai, rogai por nós)
Quem ordena a execução
Não acende a fogueira
(Pai, rogai por nós)
Quem ordena a execução
Não acende a fogueira
(Pai, rogai por nós)
Quem ordena a execução
Não acende a fogueira
(Pai, rogai por nós)

E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Deixa queimar...
E queimem as bruxas
Quem vai queimar?

A Jesus Cristo Nosso Senhor - Gregório de Matos

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta piedade me despido;
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.


Se uma ovelha perdida já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:


Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória


*-*

      Gregório de Matos, poeta e advogado, escrevia poesias críticas sobre a igreja católica. Apesar de não ser padre, ele tinha um cargo de confiança dentro da Igreja, convívio que acabou por influenciar em seus escritos poéticos.
      Em um de seus poemas, “A Jesus Cristo Nosso Senhor”, ele dá ênfase à questão do pecado e do perdão, tema que é uma das marcas mais fortes da Igreja.
      O poeta escreve de maneira argumentativa, de forma que, ao mesmo tempo em que se assume pecador, cobra o perdão (clemência) de um Deus misericordioso, algo percebido já na primeira estrofe quando ele escreve: “Pequei, Senhor” e “Da Vossa alta clemência me despido”.
      O restante do poema segue da mesma forma, ou seja, apresenta-nos o pecador que cobra o perdão através do arrependimento, conforme pode ser visto na segunda estrofe, exposto na antítese entre o pecado e o perdão: “Que a mesma culpa que Vos há ofendido”, "Vos tem para o perdão lisonjeado”.
      O poeta termina o poema (na quarta estrofe) assumindo uma postura humilde em relação ao Criador, quando se apresenta como uma “ovelha desgarrada”. Mas, a despeito disso, simultaneamente, assume um tom ameaçador, uma vez que coloca sob inteira responsabilidade do Senhor a salvação da sua ovelha e não no arrependimento que ela possa um dia vir a sentir a respeito dos seus pecados.
      Gregório de Matos teve ainda outros escritos sobre a Igreja nos quais enfatizava sempre a dualidade pecado/perdão. Por fazer parte da classe literária Barroca, seus poemas eram conceptistas, pois visavam o significado da palavra e as agudezas ou sutilizas do pensamento, além de terem um misticismo ideológico (“O Barroco: Espírito e Estilo”).
      Nesse sentido, vale destacar que a antítese barroca se centraliza na vida e morte, uma temática forte que acabou por influenciar o eu lírico do poeta, já que em seus poemas sacros (ele escreveu outros que não falavam sobre a Igreja) ele assume uma postura humilde (de pecador) diante de uma força maior e invisível.


Leila

O Matuto - Franklin Távora

      O matuto é um romance que retrata o conflito entre mascates e nobres no período do Brasil Colônia em Pernambuco. Nele Franklin Távora descreve minuciosamente todos os acontecimentos que culminaram em uma guerra sangrenta.
      Lourenço é um matuto que junto com sua família se vê envolvido nos acontecimentos que irão culminar na guerra, eles se separam logo no início do conflito e só se reencontram quando os nobres conseguem derrotar os insurgentes.
      Franklin Távora não segue os moldes da escola romântica, pois a família protagonista tem papel coadjuvante na história e o final se diferencia dos finais clássicos romanescos, ficando desse modo em aberto para uma possível continuação. É claro que o final é “feliz”, já que quem vence são os nobres e a família protagonista não sofre nenhuma baixa.
      Assim, podemos perceber que a intenção do autor não era a de escrever um romance tradicional, mas sim relatar fatos e acontecimentos reais ocorridos, fazendo-o de maneira singular, já que trabalhando em forma de prosa ele conseguiu que o relato deste triste fato de nossa história não caísse no esquecimento.

Leila

Escolho meus amigos pela pupila - Oscar Wild

 Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco!
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim : metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto. 
E velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.